Uma Nova Revolução Verde: transpondo barreiras do agronegócio.
Texto por Tiago Zucchi – Mavez Assessoria
Num passado não muito distante, o uso de microrganismos para biocontrole na agricultura era considerado algo quase esotérico. Muito desse misticismo caia sobre a ineficiência dos resultados no campo. Estranhamente, no mesmo período o uso de fixadores biológico de nitrogênio (FBN) estava sendo largamente utilizado e adotado nas lavouras de soja. O cenário começou a mudar ao final da primeira década desse século e podemos elencar três fatores principais:
1️⃣ Melhoria da qualidade dos produtos: tanto na produção em escala e formulação como no posicionamento dos produtos na lavoura;
2️⃣ Entrada de grandes players: impulsionando os pequenos fabricantes a melhorar ainda mais a qualidade dos produtos e, talvez o fator mais importante;
3️⃣ Uso em conjunto com defensivos químicos. E é justamente nesse último ponto que vemos a importância dos estudos acadêmicos em dar aplicabilidade ao conhecimento! Atendendo uma demanda crescente de produtores, as pesquisas avançaram para um sistema de manejo prático, visando o controle de cigarrinha em cana-de-açúcar.
Atualmente, esse sistema, que intercala defensivo químico e biológico, é amplamente difundido nos canaviais brasileiros! O que parecia uma certa vanguarda da cultura canavieira acabou levando a um ostracismo onde pouco avanço foi feito para aumentar a participação dos microrganismos benéficos na cultura. E foi assim até cerca de 10 anos atrás. E nesse caso, a bola da vez foram os nematoides que causavam perdas progressivas na produtividade. A adoção de ferramentas biológicas mitigou esse problema e abriu um caminho direto para exploração de novas tecnologias. Com isso, a cultura que estava presa há um passado de cultivo tradicional, começou a incorporar FBN, fungicidas biológicos, solubilizadores de fósforo e, em pouco tempo, se tornou ávida para implementação de novidades como as micorrizas e Methylobacterium.
Entretanto, não é só nos canaviais que a microbiologia pode auxiliar no ganho de produtividade! Recentemente, Procópio e colaboradores (2024) manipularam geneticamente uma cepa de levedura aumentando em até 60% a produção de etanol celulósico – sem aumentar a área plantada de cana-de- açúcar!
A continuar nesse ritmo a cultura de cana-de-açúcar tem tudo para se tornar um dos protagonistas da nova Revolução Verde. Uma Revolução nos mesmos moldes da anterior, só que dessa vez aliando alta produtividade com alta sustentabilidade! O meio ambiente e as gerações futura agradecem!